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ALDO VARGAS

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quinta-feira, 27 de abril de 2017

Romance do Tropeiro Doido

Romance do Tropeiro Doido

Autoria: Aureliano de Figueiredo Pinto, dedicado a Gaspar Ferreira

Já velhito não perdia
uma tropeada comprida
com seus seis baios ruanos
bem tosados, cola curta,
os cascos bem groseaditos,
era um desses peão de tropa
que os capatazes não deixam...

Com seu chapéu de aba larga,
e o poncho que era um galpão,
e com todos os pertences
para a lida forte e dura
-desde avios de chimarrão,
maneadores de porteira,
até os trapos ensebados
prá empeçar fogo, chovendo.

Um quero-quero prá o sono!
E ademais sem uma queixa,
ou dúvida às ordens dadas.
Vaqueano como ninguém
de rondas , pastos e aguadas,
era um desses peão de tropa
que os capatazes não deixam

Um dia a sua comitiva
afundou para as missões,
a apartar gordo em Garruchos
no velho Juca Ramão.

E no primeiro rodeio,
logo um novilho afamado,
ficado de muitas tropas
levantou as aspas claras
direito ao fundo do campo.
Mas o velhito era desses
que os capatazes não deixam...
Estendeu o baio-ruano
no plaino de pedregulho.

Levantou o treze-braças
que fez um Vuuu!...no ar parado.
E quando o laço estirou,
no instante mesmo do golpe
o baio fincou a testa!
O velhito que atendia
boi, ilhapa e cinchador
nunca este ruano rodara!
e o velhito, um saidor!
também de testa se foi..

Ficou roncando, mortito,
e quinze dias roncou.
E lá, três meses esteve
num hospital das missões,
onde o Dr. Zé Gaspar
que em moço fora tropeiro,
o atendia com a ciência
e pena no coração...

E quando aos pagos voltou
parecia o homem de sempre
-ágil, vivo, despachado!
Servidor e sempre pronto
prá uma tropeada comprida.
Só diferente na prosa
porque o juízo perdera...

No inverno lidava em guascas,
e em madeiras de carreta,
ensinando ao seu netito,
como se faz a presilha
ou se remata um botão.
Como se prepara a lonca
e o romaneio de um laço.
Como se arqueia um canzil
ou se volteia uma canga.
Como se retova um par
de bem feitas boleadeiras.

Como se prepara um couro
ou desquina um maneador.
E nas conversas com o aluno,
era tudo mais por senhas,
e idiomas de meia língua
que os outros pouco pescavam.
Ali por fins de setembro,
ou nos começos de outubro,
ia a invernada e trazia
os seus seis baio-ruanos.
Uma semana levava
tosando, groseando os cascos,
adelgaçando os seus pingos.

Já pronto para a tropeada
de todos se despedia...
Agora ninguém mais ria
da loucura do velhito.
Com seis ruanos por diante,
ia à coxilha defronte.
Lá, durante horas e horas
trabalhava como um taura:

-Apartava, refugava.
Coava. Contava a tropa
e a ajeitava na pastagem,
com o flete lavado em suor!
Tudo de imaginação!
como piazito brincando
de apartes de faz-de-conta...

Lá ia o neto buscá-lo
para o almoço e o descanso.
Ele acedia mas antes
logo pedia ajutório
para estender a tropa n'água.
Porque é um trabalho a preceito
largar a tropa na aguada...

De tarde, mudado o pingo,
o churrasquito na mala,
fazia a tropa marchar
até que, entre duas-luzes,
ao tranco, com calma e jeito,
se fosse cerrando a ronda...

De novo o guri o buscava
e afinal o convencia
que a peonada era boa,
podia rondar sem ele.
Podia ir pousar nas casas...
Se a noite não tinha lua
ele voltava à morada.

Mas nas noite de luar claro,
nas noites de lua cheia,
nem o neto o demovia!
Rondava a coxilha, ao tranco,
às vezes meio cantando,
até que clareasse o dia.

E foi numa dessas noites
de luar prateando as lagoas,
que amanheceu morto, lá no alto.
Com a rédea atada no pulso,
largo chapéu sobre os olhos
e o ruano olhando o seu dono.

Primeira e única noite
que o taura dormiu na ronda.

domingo, 23 de abril de 2017

Aqui estou, Sr. Inverno

Aqui estou, Sr. Inverno

Autoria: Aureliano de Figueiredo Pinto

Já sei que chegas, Inverno velho!
Já sei que trazes - bárbaro! O frio
e as longas chuvas sobre os beirais.
Começo a olhar-me, como em espelho,
nos meus recuerdos... Olho e sorrio
como sorriram meus ancestrais.

Sei que vens vindo... Não me amedrontas!
Fiz provisões de sábias quietudes
e de silêncios - que prevenido!

Vão-se-me os olhos nas folhas tontas
como simbólicos ataúdes
rolando ao nada do teu olvido.

Aqui me encontras... Nunca deserto
do uivo dos ventos e das matilhas
de angústias vindo sem parcimônias.
Chega ao meu rancho que estou desperto:
- sou veterano de cem vigílias,
sou tapejara de mil insônias.

Aqui estarei... Na erma hora morta,
junto da lâmpada, com que sonho,
não temo estilhas de funda ou arco.
Tuas maretas de porta em porta,
os teus furores de trom medonho
não trazem pânico ao bravo barco.

Na caravela ou sobre a alvadia
terra do pampa - cerros e ondas
meu tino e rumo não mudarão.
No alto da torre que o mar vigia,
ou, sem querência, por longas rondas,
não me estrangulas de solidão.

Tua estratégia de assalto e espera
conheço-a muito, fina e feroz:
de neve matas; matas de mágoa;
derramas nalma um frio de tapera;
nanas ausências a meia voz
e os olhos turvos de rasos d'água.

Comigo, nunca... Se estou blindado!
Resisto assédios, que bem conduzes,
no legendário fortim roqueiro.
Brama as tuas fúrias de alucinado!
- Fico mais calmo que as velhas cruzes
braços abertos para o pampeiro.

Os meus fantasmas bem sei que animas
para, num pranto de vãs memórias,
virem num coro de procissão
trazer-me o embalo de velhas rimas.
- À intimidade dessas histórias
tenho aço e bronze no coração.

Então soluças pelas janelas,
gemes e imprecas pelos oitões,
galopas louco sobre as rajadas,
possesso, ululas entre procelas.
E ébrio, nas noites destes rincões
lampejas brilhos de punhaladas.

Inútil tudo! Vê que estou firme.
Nenhum receio me turba o aspeto,
nenhuma sombra me nubla o olhar.
Contigo sempre conto medir-me
frio, impassível, bravo e correto
como um guerreiro que ia a ultramar.

Reconciliemo-nos, velho Inverno!
Nem és tão rude! Tão frio não sou...
Venha um abraço muito fraterno.
Olha...
Esta lágrima que rolou
não a repares...
É de homenagem
a alguém que aos céus se fez de viagem,
e nunca... nunca! Nunca mais voltou... 


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